segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Clichê barato (e necessário)

Eu não acredito em macumba e mau olhado (ou mal olhado? e afinal, quem, além de mim, se importa com a língua portuguesa ao fazer uma revelação dessas?). Bom, o que quero dizer é que nunca acreditei que essas coisas realmente funcionem, caso sejam feitas. Sempre fui de achar que quem não se importa com os efeitos de macumbas e olhares ruins (assim é melhor?) é meio que isento das repercussões práticas de alguém se importando em lhe direcionar o mal com uma "simpatia" escabrosa e macabra.
Contudo, eu acredito que algumas coisas nos encontrem. Uma palavra que nunca ouvimos, aprendemos, e de repente está estampada em todos os jornais e no próximo capítulo do livro. Uma pessoa que não vemos há meses, um dia a gente lembra dela e no outro ela puft!, aparece cheia de saudades. 
Não é estranho? Ser tão cética para macumbas e mau olhado e tão crente que o destino me proporciona as coisas certas nos momentos certos, às vezes. É como se fossemos grandes ímãs, através de um pensamento ou outro. Ou isso é tudo uma grande bobagem, não tenho bem certeza. Pode ser que as coincidências que nos encontram são apenas um reflexo de nossa recente atenção voltada para elas. O que eu tenho certeza é que jamais emprestarei minha atenção ou dedicarei meus esforços vocais para proferir qualquer coisa como "isso aí de ruim, que me aconteceu, só pode ser mau olhado!". Acho uma demonstração desnecessária de fragilidade diante do mundo.
Lembrei de escrever sobre isso porque ontem comecei a ler Juliete nunca mais, do Gabito Nunes, e hoje cheguei - e parei - no capítulo em que Santiago é convidado para escrever horóscopo para um jornal. Eu não acredito em horóscopo de jornal, mesmo acreditando nas características astrológicas do meu signo a ponto de me confessar uma leonina ortodoxa e sair identificando outros leoninos em conversas aleatórias por aí. Eu não acredito em horóscopo de jornal, mas é a primeira seção que eu corro para ler depois das manchetes interessantes, quando um jornal me cai às mãos.
Eu ainda não descobri se Santiago, o protagonista de Gabito, manja de astrologia ou se isso faria alguma diferença prática. O caso é que não acredito em horóscopo de jornal mas sei que, talvez, a astrologia que determinou as características do meu signo, na qual acredito, seja a mesma que pauta as orientações para "um dia bom para viagens" enquanto a rua de um pisciano está alagada e ele só consegue confirmar a previsão caso interprete o próprio signo de maneira literal ou vá voando. 
Eu sei que por várias vezes eu chegarei à seção de esporte pensando que as previsões astrológicas do jornal são tão úteis quanto passar o dia procrastinando na internet, mas isso não me tira a expectativa de bons: olhares, coincidências, presságios. Dá até pra falar nessa "positividade", da qual eu sou meio avessa, que alguns segmentos proclamam. Eu não sou paz e amor vinte e quatro horas no dia, mas meu saldo sempre dá crédito às coisas boas. A verdade é que a gente sempre anseia por bálsamo aos dias. Deseja sempre pessoas otimistamente interessantes, mesmo que sejam difíceis. Gente "pra frente", sabe? Como diriam os nossos avós. E deseja também ocasiões oportunas, mesmo que sejam escassas, em que os ventos parecem favorecer nossas velas.
Eu não acredito em macumba mas sou supersticiosa, sim, à minha maneira. Minha tradição é quase sempre acreditar que o futuro me reserva uma sorte inquebrantável, e que isso não me isenta de ir tricotando os meus talentos. Quem não pode com a mandinga não segura o patuá? Bom, eu seguro alguns e acredito que isso me faz poder com outros. Minha crendice é insistir que a esperança não pode se debilitar nem com a pior das doses de realismo - por mais que ele seja necessário - porque é ela que nos possibilita e nos blinda diante do pior que possa acontecer.
Mirem mal outras direções. Descosturem a boca dos sapos em que, por ventura, puseram meus nomes. Eu não acredito em macumba e mau olhado, não vai adiantar. O que me impulsiona é o que deixo me atingir. A força que me move é minha fé: no que eu quiser.

3 comentários:

Anônimo disse...

First!

Anônimo disse...

Penso que o ceticismo mata a mágica das coisas e o misticismo evade os porquês e converge ao conveniente.

Muito embora não seja um crente do todo, não duvido que um particular conspire contra outrem ao ponto do destino ignorar seus mau(l)s olhos.

Mesmo discorde, achei interessante por demais seu posicionamento: Acho uma demonstração desnecessária de fragilidade diante do mundo.

Kamikasianami.

Carolina da Silva disse...

Eu também não acredito, apesar de (culpa do meu Mercúrio na Casa XII) ter uma "atração pelo misticismo ou assuntos fora do comum."

HAHAHAHAHAHAHAHA, mas falando sério... Não acredito em mal olhado ("bom olhado" não soa tão bem quanto "bem olhado", sei lá) pelo simples fato de que se alguém ousar - rá! - a lançar um para mim e formos competir em questão de olho ruim: eu certamente ganharei! HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

É quase tipo frase de recalque: teu mal olhado bate no meu E VOLTA, MEU BEM! HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

Adorei o texto :*