quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Os dias de ávido empenho

Ao som de Belle and Sebastian - I don't love anyone.

O ontem me encontrou no corredor, mas não fez mais que acenar com a cabeça e pronunciar um encontro vocálico. Depois que anoiteceu, era de se esperar. Anteontem está em outra fase, virou gente grande. Nunca mais vi, não mais posso querer. Ainda deve mexer nos cabelos com a mesma frequência. Ainda deve dizer a palavra verdade com dificuldade. Ainda deve ser doce. Antes de anteontem não demonstra nada, não me chora e não me sorri, não me mostra os dentes, não me dá sinal de vida. Um erro grotesco sentou-se algumas carteiras longe de mim. Eu não sabia se aquilo ia ser meu depois de amanhã ou meu nunca. Não havia nada de realmente encantador como nas histórias precedentes e eu temia que aquela busca acabasse assim, em erros como aquele. O hoje, preso a uma sala com as paredes desenhadas de imaginação, parecia o melhor, mas era perigoso pois nada sabia a respeito dos outros erros, dos outros dias. Então pressenti que, sem muita demora, de fato não duraria.
A consciência eu encontrei na saída, tinha um arco de balões coloridos pouco acima da cabeça. Chamativa. Levava um cartaz colado na barriga, onde se lia: Você não ama nenhum deles. Atordoada eu não consenti nem discordei, fechei os olhos, girei o corpo e passei quase colada à porta para não esbarrar naquela frase. E eu, que só sei gostar do que ainda não foi, sinto saudade de tudo e gosto daquele lugar.
Quando meu amanhã chegar - e eu suponho que é exatamente ali que nos encontraremos - aquele arco de balões coloridos será céu para um abraço. Finalmente estarei em paz. Não é mais do que a minha consciência merece, por deixar que eu teste o meu coração com ávido empenho, pouca sinceridade e um sem fim de esperança, todos os dias antes de amanhã chegar...

Um comentário:

W. Luis disse...

E quando o amanhã chegar, estaremos aqui, como hoje e ontem, procurando um certo sentimento que teima em escapar...
Parabéns pelos textos!