sábado, 23 de outubro de 2010

Mas que merda! Chega dessa palhaçada!

Não se ofenda.
Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Um dia me abduziram, sabe? (Claro que sabe. Não se faça de tonto, não) Disseram que eu pertencia à Terra, esse lugar onde as pessoas de 12 a 25 anos (às vezes mais) não se importam com nada. Nada mesmo. Não se importam com nada, nem com o que lhe diz respeito. Um universo de pessoas que querem curtiiiiiir qualquer coisa ou pessoa, uhuuuuul, animaçããããão, aproveitaaar muitoooo, bebidas, sorrisos embasbacados, beijos em bocas mais ou menos rodadas, futilidades, ou talvez, o que é pior: amores mágicos da noite pro dia, mas tudo em larga escala.
Me trouxeram pra esse lugar onde ir para a cama com alguém não significa absolutamente nada, onde usar qualquer droga é como comer feijão com arroz, onde ser burro como uma pedra não faz diferença nenhuma. O negócio é beijaaaar, ou daaaaaaar, ou namoraaar muitas pessoas, qualquer uma, ou bebeeeeeer, ou fingir que tudo está óóóóóóótimo sempre. Muito bem.
O problema é que esqueceram que no meio dessa zona toda tô eu. E que eu sou de Marte. E que lá o negócio é diferente. As pessoas aqui na Terra parecem se esquecer que eu não quero ouvir quantos elas beijaram em uma noite de Oktoberfest (e foram mais de DEZ!), que eu não quero ver fotos de gente bêbada muito feliz com suas caras de feliz a qualquer preço (custe o que custar!), que eu não quero ser a outra, que eu não quero que minha companhia seja dispensável em detrimento da moça que é dada ou que oferece certa demasia em estabilidade, que eu não quero vomitar de tanto álcool, que eu não quero voltar de uma festa fedendo a fumaça que jogam pro alto pra provar que são sabe-se-lá-o-que, que eu não quero estar perto de gente que acha o máximo usar regata pra mostrar a tatuagem e os músculos, que eu não tenho saco pra conversa mole de oi-como-tu-te-chamas-quer-ficar-comigo, que eu não admiro gente vazia, que eu não aguento cena de gente porca e medíocre, que eu não quero ter que me contentar com pouco porque o mundo todo ri às pampas de tudo que eu não acho graça.
Eu não sou assim, ainda que não seja fácil não ser assim numa madrugada com o cabelo fedendo a cigarro, as unhas roídas e uma lista de contatos babacas, acéfalos, comprometidos, desinteressantes ou ocupados demais com pequenezas terráqueas. A Terra, percebo muito a contragosto, é desses meia-bocas. Um marciano legítimo se inquieta com meia-bocas, pois sabe que a galáxia é muito maior. E, infelizmente, os marcianos estão em extinção. Só sei que não se acabaram porque, longe dos espelhos, EU ainda me sinto uma alienígena nata.
Outro dia se espantaram com os meus tantos meses de solidão. E os humaninhos idiotas, já seguros de si, me dirão que a culpa é minha. E é verdade. Talvez eu tenha pedido para ser abduzida, como poucos o fazem. Em todo caso, para efeitos de redenção, proponho uma embaixada de Marte aqui na Terra para todos os rubroplanetários que andam enojados de todas as coisas, cansados dessas estrangeirices, espantados com a tolice manifesta da exacerbada maioria da população desse planetazinho de quinta que quer nos naturalizar pela pressão.
Queria saber me camuflar no senso comum, mas é na minha vontade de isolamento que a palavra MARTE se imprime em letras garrafais em minha testa enquanto vago no meio das gentes. Que seja assim, então. Nada como uma órbita depois da outra.

3 comentários:

Eucio C. Luchtenberg disse...

Queria poder dizer algo que complementasse. Mas não me acorre. Pontas de sarcasmo com suaves tons de ironia as vezes se fazem necessários. Perfeito!

Jenifer disse...

O que dizer que já não tenha sido dito por você? Bom, acho que nada.
Os abduzidos veteranos chamam de circo social, e se acostumaram a observar de camarote a decadência deste meio. Abominável destino esse mundo na esquina do Universo se meteu...

Anônimo disse...

Também sou de marte. Se fosse de Saturno não me importaria, tampouco Netuno, porém, Terra? O universo está em constante expansão e esse planetinha "atolado no próprio azul" realmente está mais porco do que belo (latu senso e estrito senso), assim sendo, prefiro vagar no vácuo (solidão) eternamente do que ser mais um mero átomo em meio massa atômica! Divino... Ainda espero o livro!

(Kamikasianami)