sábado, 17 de julho de 2010

Despedidas

Charles morreu, em um acidente. Tinha 20 e poucos anos, deixa mãe, irmã, uma namorada e amigos. Apesar de homem feito, carregava consigo uma juventude gritante e não raro quem lhe encontrasse o trataria por “rapaz”. Era ainda um rapaz o Charles que conheci de vista, de ouvir falar. Não sei como era sua vida, assim, em pormenores, não sei se era bom homem, se trabalhava, se preferia verde ou azul... Tudo o que tenho certeza é de que ele vivia e a partir de um acidente como o da noite de ontem, não viverá mais. Era um cara como tantos outros caras, que sorria, namorava, festava...
Mas para o Charles e toda a sua juventude, fatalmente, não haverá amanhãs. Charles não poderá mais assistir seu time ser campeão, nem comprar o carro dos planos, nem viajar para a praia. Charles não verá agosto dissipar o frio, quanto menos setembro anunciar a primavera... Charles não comemorará seu próximo aniversário, não saberá o que é envelhecer com sabedoria, não reclamará do governo que vai assumir o país. Charles não terá tempo para ter filhos, não irá reconciliar-se com desafetos, não será possível dizer eu te amo uma última vez a quem quer que ele amasse. E essa porção de verbos, negados por um acidente que lhe tomou a vida, dão conta de desolar a nós, inconformados.
Embora haja algumas explicações – sejam elas o destino que já estava escrito, uma missão que fora cumprida ou um chamado divino para os céus – nenhuma delas dá conta de acalmar a angústia de um momento como esse. A morte que me perdoe, mas acharei, agora e sempre, que foi cedo para o Charles e para tantos outros que morrem todos os dias. Porque ainda havia tanto por viver...
Em um momento a vida é tão imensa, cheia de cores, e em outro, tão pequena a ponto de caber e esvair-se em alguns segundos. Não é o acidente que me assombra, nem só a morte que me espanta... É a vida, recheada de uma fragilidade sem fim, que doerá a cada um de nós nessa inevitável despedida. Doerá porque olharemos para trás e, em nossas memórias, Charles sorrirá para sempre como no último riso que ele deu em nossa companhia. E doerá porque, ao nos lembrarmos dele, lembraremos também de todos aqueles que nos são caros e que, mais dia menos dia, nos deixarão de formas que, ao coração, serão invariavelmente cruéis. Cabe a quem fica retirar daquele último sorriso força para continuar. Procurar naquele último contato um suspiro de conforto que seja capaz de motivar a seguir...

Um comentário:

Thay disse...

Aos prantos eu escrevo essas palavras pra dizer que mais uma vez tocas o meu coração.

Te amo!

Thay,